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Passos práticos para adequação à LGPD (Guia completo)

Confira neste guia completo como se adequar à LGPD!


1. Comprometimento da liderança e governança

A adequação começa no topo. Sem decisão executiva e orçamento, o projeto patina.

O que fazer:

  • Conseguir compromisso formal da diretoria (patrocínio e recursos).
  • Nomear um responsável pelo programa de privacidade (comitê interno) — idealmente, Sponsor Executivo + Encarregado/ DPO (pode ser funcionário ou contratado).
  • Definir objetivos do projeto (níveis de risco aceitáveis, escopo: unidades, países, sistemas).
  • Estabelecer política de privacidade corporativa e mandato do comitê.

Entregáveis:

  • Ata de posse do Sponsor + termo de governança.
  • Política de Privacidade corporativa aprovada.

Responsáveis: direção, jurídico, TI, RH.


2. Mapeamento de dados (data mapping) — passo crítico

Sem saber quais dados circulam, onde e por que, nada funciona. O mapeamento é o coração da LGPD.

O que fazer:

  • Inventariar todos os “ativos de dados” (sistemas, planilhas, CRMs, formulários, provedores, contratos).
  • Para cada fluxo, registrar: finalidade, categorias de dados (pessoais / sensíveis), base legal, responsável (controlador/operador), período de retenção, transferências (internas/externas) e medidas de segurança aplicadas.
  • Priorizar processos críticos (recursos humanos, clientes, fornecedores, marketing, cobrança).

Entregáveis:

  • Mapa de Dados centralizado (planilha ou sistema GRC) com pelo menos: Sistema | Dado | Finalidade | Base Legal | Localização | Retenção | Operador | Risco.
  • Mapa de fluxos críticos (diagramas).

Responsáveis: Encarregado/DPO, TI, áreas-solicitantes.

Dica prática: comece pelos 10 sistemas que concentram a maior quantidade de dados pessoais (Pareto).


3. Avaliação de riscos e Data Protection Impact Assessment (DPIA)

Identificar riscos e mitigá-los antes que virem incidentes.

O que fazer:

  • Para cada processamento identificado como alto risco (ex.: tratamento de dados sensíveis, monitoramento em larga escala, transferência internacional), realizar DPIA: descrever o processamento, avaliar severidade e probabilidade, listar mitigantes e decisões.
  • Priorizar mitigantes técnicos e organizacionais (p.ex.: criptografia, controle de acesso, anonimização).

Entregáveis:

  • Relatórios DPIA com plano de ação e registro de decisões (aceitar/mitigar/rejeitar).

Responsáveis: DPO, líder do processo, TI, jurídico.

Critério de alto risco: tratamento massivo, dados sensíveis, finalidade inovadora sem expectativa razoável do titular.


4. Revisão e atualização de bases legais e políticas de consentimento

É essencial justificar o tratamento por uma base legal adequada.

O que fazer:

  • Para cada finalidade (marketing, folha, cobrança, analytics), definir a base legal aplicável: consentimento, execução de contrato, obrigação legal, exercício regular de direitos, proteção do crédito, interesse legítimo etc.
  • Revisar todos os formulários, banners, contratos e comunicações que coletam dados para garantir informações claras e específicas (finalidade, tempo de retenção, direito de revogar consentimento).
  • Implementar um mecanismo de gestão de consentimento (CMP) para cookies e marketing quando o consentimento for a base legal.

Entregáveis:

  • Matriz de bases legais por finalidade.
  • Modelos de avisos/consentimento (formulários, banners, scripts).

Responsáveis: jurídico, marketing, DPO, TI.

Atenção: se usar “interesse legítimo”, documente análise de balanceamento (legitimate interest assessment).


5. Contratos e governança com terceiros (operadores / subprocessadores)

Fornecedor mal contratado = risco alto. Atualize contratos com cláusulas LGPD.

O que fazer:

  • Identificar todos os operadores (cloud, ERPs, gateways, fornecedores que processam dados).
  • Atualizar contratos/ADTs com cláusulas mínimas: finalidade, instruções do controlador, medidas de segurança, subcontratação (subprocessors), auditoria, prazo de retenção, obrigação de notificar incidentes, regras para transferência internacional e devolução/eliminação de dados.
  • Fazer due diligence em provedores críticos (segurança, certificações, localização dos dados).

Entregáveis:

  • Aditivos contratuais prontos.
  • Inventário de operadores com status de conformidade.

Responsáveis: jurídico, procurement, DPO.

Dica: priorize renegociação dos contratos com fornecedores que tratam PII sensível ou que hospedam dados fora do país.


6. Segurança da informação: medidas técnicas e organizacionais

A LGPD exige medidas de segurança “técnicas e administrativas” adequadas ao risco.

O que fazer:

  • Implementar controles essenciais: gestão de acesso (princípio do menor privilégio), autenticação multifator, criptografia em trânsito e repouso para dados sensíveis, logs e monitoramento, backups e testes de restauração.
  • Policy stack: classificação de dados, controle de endpoints, gestão de vulnerabilidades, hardening de servidores, WAF e DLP quando aplicável.
  • Programa de gestão de vulnerabilidades: pentests regulares, patch management e correção de vulnerabilidades críticas.
  • Plano de resposta a incidentes (IRP) e playbook para vazamento de dados (com templates de comunicação para titulares e ANPD).

Entregáveis:

  • Inventário de controles implementados + gap analysis.
  • Plano de remediação com prazos e responsáveis.
  • IRP documentado e testado.

Responsáveis: CISO/TI, DPO, segurança.

Padrão mínimo sugerido: MFA em acessos administrativos, criptografia de bases com dados sensíveis, logs de auditoria por 6–12 meses.


7. Direitos dos titulares: processos e SLAs

Criar um fluxo eficiente para responder solicitações (acesso, correção, exclusão, portabilidade, oposição, revogação).

O que fazer:

  • Definir canal(es) centralizados para solicitação de direitos (email, formulário web, portal).
  • Construir workflow: recebimento → verificação de identidade → análise do pedido → execução → resposta documentada.
  • Estabelecer SLA interno (sugestão: responder em até 15 dias corridos, com possibilidade de prorrogação documentada).
  • Gerar templates de resposta e logs de atendimentos.

Entregáveis:

  • Workflow operacional e templates.
  • Registro de requests (chamados) com status.

Responsáveis: DPO, atendimento, jurídico, TI.

Observação: a LGPD exige registro das solicitações e respostas — mantenha trilha de auditoria.


8. Retenção e eliminação de dados (data retention policy) em concordância com LGPD

Defina “quanto tempo” e como eliminar de forma segura.

O que fazer:

  • Criar política de retenção por categoria de dados (ex.: RH — 5 anos após desligamento; clientes — pelo prazo contratual + obrigações fiscais).
  • Implementar processos automáticos para expurgo (delete) em sistemas, com backup/recuperação controlada.
  • Registrar justificativa legal para cada período de retenção.

Entregáveis:

  • Tabela de retenção (categoria | finalidade | base legal | período | ação ao fim).
  • Procedimento de eliminação segura (wipe, criptographic erasure, logs).

Responsáveis: TI, jurídico, DPO.

Importante: evidencie quando dados são preservados por obrigação legal (fiscal, trabalhista).


9. Transferências internacionais de dados

Se você exporta dados, é preciso cuidado.

O que fazer:

  • Mapear transferências para provedores ou filiais no exterior.
  • Validar mecanismos permitidos: decisão de adequação, cláusulas contratuais padrão, normas corporativas vinculantes (BCR), ou garantias/consentimento explícito quando aplicável.
  • Documentar justificativas e medidas adicionais (criptografia, segregação).

Entregáveis:

  • Inventário de transferências internacionais + mecanismo adotado.
  • Cláusulas contratuais específicas.

Responsáveis: jurídico, DPO, TI.


10. Treinamento, cultura e comunicação interna sobre LGPD

A LGPD é tanto tecnologia quanto gente. Pessoas erram — treine-as.

O que fazer:

  • Treinar todas as áreas (RH, comercial, financeiro, suporte) com módulos adaptados; liderança deve passar por formação aprofundada.
  • Criar campanha interna de conscientização (boas práticas, phishing, classificação de dados, como responder a pedidos).
  • Incluir LGPD em processos de onboarding e em contratos de colaboradores (cláusulas de confidencialidade).

Entregáveis:

  • Plano anual de treinamentos + material (slides, quizzes).
  • Registros de participação.

Responsáveis: RH, DPO, comunicação interna.

Métrica: percentuais de colaboradores treinados, taxa de aprovação em quiz.


11. Monitoramento, auditoria e melhoria contínua na LGPD

A conformidade é um processo, não um projeto único.

O que fazer:

  • Estabelecer auditorias internas periódicas (triagem trimestral, auditoria anual completa).
  • KPIs de privacidade: tempo médio de resposta a SARs (subject access requests), número de incidentes, tempo de detecção e mitigação (MTTD/MTTR), percentual de fornecedores em conformidade.
  • Revisão anual da DPIA e das políticas.

Entregáveis:

  • Relatório de auditoria com plano de ação.
  • Dashboard de KPIs de privacidade.

Responsáveis: DPO, auditoria interna, TI.


12. Plano de resposta a incidentes e comunicação de vazamento em relação à LGPD

Prepare-se para o pior — e comunique certo.

O que fazer:

  • Ter IRP com papéis, checklist de contenção, forense e comunicação.
  • Definir quando notificar titulares e ANPD; embora a LGPD não fixe prazo exato, o recomendado pelo mercado é comunicar tão logo seja possível — preferencialmente em até 72 horas úteis após confirmação do incidente.
  • Preparar templates: comunicado ao titular, comunicado à ANPD, FAQ para imprensa.

Entregáveis:

  • IRP testado com tabletop exercises.
  • Templates e lista de contatos (jurídico, PR, autoridade, bancos).

Responsáveis: DPO, jurídico, TI, comunicação.


13. Privacidade desde o design (Privacy by Design) e por padrão (Privacy by Default)

Incorpore privacidade em novos projetos.

O que fazer:

  • Padrão: exigir avaliação de privacidade (DPIA) antes do lançamento de produtos.
  • Projetar configurações iniciais com o menor nível de dados possível (opt-in vs opt-out) e opções claras de consentimento.
  • Requerer revisão de arquitetura para novos sistemas (minimização, pseudonimização, logs limitados).

Entregáveis:

  • Checklist de PbD para projetos (requisitos mínimos).
  • Processo obrigatório de avaliação antes do go-live.

Responsáveis: produto, TI, DPO.


14. Comunicação externa: políticas e transparência da LGPD

Seja claro com clientes, fornecedores e candidatos.

O que fazer:

  • Atualizar políticas públicas: Política de Privacidade, Política de Cookies, Avisos em formulários.
  • Incluir linguagem simples, finalidades, base legal, tempo de retenção, contatos do DPO.
  • Disponibilizar canal de dúvidas e reclamações.

Entregáveis:

  • Páginas de política atualizadas e auditadas por jurídico.
  • Logs de consentimento e versões históricas.

Responsáveis: marketing, jurídico, DPO.


15. Cronograma sugerido (roadmap / prioridades)

Exemplo prático para execução:

  • 0–1 mês (Quick wins): comprometimento executivo, nomeação do DPO, inventário dos 10 principais sistemas, banner atual de cookies básico.
  • 1–3 meses: mapeamento completo de dados (fase 1), política de privacidade revisada, contratos prioritários enviados para aditivo, criação do workflow de SAR.
  • 3–6 meses: DPIAs das áreas críticas, implementação de controles técnicos (MFA, criptografia em dados sensíveis), treinamento organizacional inicial.
  • 6–12 meses: revisão de fornecedores, automações de expurgo, auditoria interna, testes de IRP, privacidade por design em novos projetos.
  • 12+ meses: auditorias periódicas, melhoria contínua e maturidade de privacidade.

KPIs e métricas para medir conformidade

Mensure progresso com números:

  • % de sistemas mapeados vs. total.
  • % de fornecedores com aditivo LGPD.
  • Tempo médio de resposta a solicitações de titulares (dias).
  • Número de incidentes por trimestre e tempo médio de resolução (MTTR).
  • % de colaboradores treinados.
  • % de recomendações de auditoria fechadas no prazo.

Modelos e templates essenciais

  1. Registro de tratamento (ex.: planilha): ID | Sistema | Finalidade | Tipo de dado | Base legal | Retenção | Localização | Controlador | Operador | Risco | Observações.
  2. Template DPIA: descrição do processamento | finalidade | dados envolvidos | impacto possível | probabilidade | medidas mitigadoras | residual risk | decisão.
  3. Aditivo de operador: finalidades, instruções do controlador, segurança mínima, subcontratação, obrigação de notificação de incidentes, auditoria, prazo de retenção, devolução/eliminação.
  4. Formulário SAR: nome do titular | documento de identidade | contato | pedido | data de recebimento | verificação de identidade | resposta | evidências.
    (Se quiser, eu posso gerar esses modelos em XLS/Word.)

Checklist rápido de implementação sobre a LGPD

  • Direção comprometida e DPO nomeado.
  • Inventário/Mapa de Dados inicial (top 10 sistemas).
  • Política de Privacidade atualizada pública.
  • Workflow de atendimento a titulares implementado.
  • Aditivos contratuais para operadores críticos.
  • Controles técnicos mínimos implementados (MFA, backup, criptografia).
  • Plano de Resposta a Incidentes documentado e testado.
  • Treinamento inicial de 100% das áreas críticas.
  • DPIAs para tratamentos de alto risco.
  • Processo de revisão/privacidade por design para novos projetos.

Observações finais e boas práticas da LGPD

  • Privacidade é contínuo: revise políticas e controles sempre que houver mudança tecnológica, regulatória ou de mercado.
  • Documente tudo: a melhor defesa em fiscalização é a prova de diligência.
  • Equilibre segurança e usabilidade: excessos podem atrapalhar negócios — priorize riscos.
  • Use abordagens pragmáticas: comece pelo que tem maior impacto e risco (clientes, RH, cobranças).
  • Considere certificações e frameworks (ISO 27701, SOC2) para ganhar confiança no mercado.

Fale com o consultor, é grátis :)